Costumo ler revistas automotivas brasileiras, e as mais famosas, a meu ver, têm muito o que melhorar. Não estou falando da qualidade técnica - os textos são bem escritos, por exemplo. Estou me referindo à coragem de seus jornalistas, ausente. Falta-lhes mais sinceridade e senso crítico.
Jeremy Clarkson, ácido jornalista britânico, é por si só meu ídolo. Testa carros em seu programa Top Gear, exibido pela BBC, e diz diretamente se gostou ou não gostou. Ao testar o Perodua Kelisa - carro produzido na Malásia e automóvel mais barato à venda no Reino Unido -, afirmou: "esse é sem dúvida o pior carro do mundo inteiro". Ele ainda falou: "a palavra 'Kelisa' parece uma doença e o carro foi feito em florestas por pessoas que usam folhas como sapatos". Vários chiaram contra sua sinceridade extrema, mas eu protesto: que ele continue sendo sincero como sempre foi, porque ele tem todo o direito de não gostar de um carro (ele é entendido do assunto, aliás) e acho que sua opinião, assim como a de outros jornalistas especializados, confluem (ou devem confluir) para o desenvolvimento dos carros atualmente à venda. Se ninguém diz nada, fica acomodado, aquele carro porcaria sempre vai continuar à venda. É mais ou menos a mesma coisa com os carros semelhantes: a competição e a concorrência justamente existem para promover o aprimoramento dos carros, porque sem concorrentes não haveria um motivo concreto para a melhoria.
Aí alguém pergunta: mas se o carro vende bem, por que mudar? Porque é preciso mudar, evoluir, avançar, acompanhar os novos tempos. Não se pode, na indústria automotiva, parar no tempo e ver concorrentes mais modernos avançando. Por isso existem os jornalistas especializados, que formam opiniões do que se deve melhorar e o que deve ficar, porque o consumidor não consegue analisar friamente. Eu não consigo analisar, por exemplo, o comportamento dinâmico de uma Mercedes-Benz Classe C, atual geração. Pouco que sei é que ele evoluiu a ponto de se igualar ao comportamento dinâmico da BMW Série 3, clássica referência nesse sentido.
Os jornalistas brasileiros precisam parar de ter medo das grandes montadoras instaladas no Brasil e largar brasa nos modelos ruins, apenas quando necessário, claro. E também não economizar elogios à modelos que merecem, como Clarkson faz. É preciso ter mais liberdade. Quando um carro fica em último lugar em um comparativo, alguns comentam: "apesar da última colocação, isso não é demérito, porque o carro é ótimo mesmo assim". Não, não é ótimo, senão estaria em primeiro lugar. E que a montadora desenvolva tal carro para alcançar a liderança.
Na foto, o Perodua Kelisa. O que você acha?
2 comentários:
- At 6 de janeiro de 2009 às 15:07 Ricardo Paes de Barros said...
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Teste
- At 7 de janeiro de 2009 às 05:31 Anônimo said...
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Mas porque será que a maioria dos jornalistas têm medo? Cabeças postas a prêmio pode ser uma das repostas, conveniência, iludir o leitor. Tudo parte de um grande mercado mundial, assim como em outras indústrias.
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