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O desafio é entender o que o consumidor quer


Como em qualquer outro ramo da indústria, alguns produtos caem nas graças dos consumidores e vendem muito, causando um frenesi de consumo e virando febre de mercado, não importando qual intervalo de tempo levou para alcançar tal ritmo de vendas. No mundo do automóvel, essa afirmação é mais do que válida. Por inúmeros fatores, alguns lançamentos são sucesso em vários mercados automotivos. Por que alguns carros dão certo e outros não? Uma resposta: estratégia da montadora. Se ela fizer a coisa certa, seus lançamentos podem vir a se tornar febres.
A equipe de marketing de uma montadora é responsável por entender os anseios dos consumidores e transmitirem suas vontades para os engenheiros da marca. A montadora tem consciência de que seu carro, ao ser lançado, é um produto direto de vários pedidos dos consumidores, vontades aquelas reunidas em clínicas de mercado. Isso acaba dependendo, também, do mercado que a montadora quer que o carro seja vendido, onde inúmeras condições sócio-econômicas, culturais e geográficas confluem para o sucesso ou fracasso de um carro.
Pensemos no Ford EcoSport, um dos carros de sucesso mais inesperado dos últimos anos. Lançado em 2003, se tornou uma enorme febre de mercado na época, com ágio superando os 5 mil reais, o que era alto em proporção com seu preço. Hoje, depois de seis anos, não continua o mesmo fenômeno embora figure, ainda, na lista dos carros mais vendidos. Hoje, o público quer Tucson e Civic, mas até pouco tempo atrás o carro do sonho do brasileiro era, basicamente, um EcoSport. Era o tipo de carro que causava inveja aos vizinhos. Por que isso acontecia? Inovação. A Ford foi a primeira montadora brasileira que resolveu entrar no segmento de utilitários esportivos compactos. A mídia chama de “aventureiros urbanos”, “off-roaders leves”. O nome não importa. O acabamento do carro era péssimo, a qualidade de construção trazia barulhos infernais e o carro era por si só frágil, mas era, sobretudo, bonito. E com um preço acessível, tornou-se o SUV mais barato do Brasil, embora não seja propriamente dessa categoria. Entendo seu sucesso como uma prova de que os consumidores querem novos segmentos inovadores, com carros que os destaquem no trânsito. Por isso o sucesso do Hyundai Tucson é explicado. O Tucson está longe de ser uma maravilha da natureza, mas leva ao consumidor, em uma faixa de preço acessível, um carro alto, com aparência robusta e que causa certo status.
Voltando ao EcoSport, tenho certeza de que ele não faria sucesso na Europa, mesmo com acabamento melhorado e mais equipamentos. O europeu não se envolveria com seu design – lá eles têm disso, e muito. Aqui, o mercado é menos desenvolvido e o EcoSport acabou como um símbolo da criatividade dos engenheiros brasileiros. Um exemplar top de linha do EcoSport brasileiro acabou indo parar até mesmo na garagem do presidente mundial da Ford nos EUA, impressionado com a criação de sua filial brasileira. Essa categoria de “SUVs urbanos compactos”, inaugurada pela Fiat Palio Weekend Adventure em 1999 e consolidada pelo EcoSport, é praticamente inédita no mundo. É o segmento criado e adorado pelos brasileiros e, por extensão, pelos sul-americanos (sentimento semelhante aos sedãs compactos, derivados de hatches pequenos; em nenhum outro lugar do planeta eles vendem tão bem).
Engraçado que alguns carros não deram certo justamente por causa do trabalho mal-feito do marketing da montadora. O Renault Mégane Sedan nacional, lançado em 2006, chegou primeiro com motor 2.0 e só depois com o 1.6, que tenderia a vender mais. Acabou por vender bem abaixo das expectativas da montadora, enquanto o Civic explodia. O Ford Focus Sedan, lançado no fim de 2008, chegou sem o motor flex. As vendas, apesar de estarem embalando, estão baixas. Motor flex é outro traço brasileiro e é necessário que carros com grande volume de vendas o tenham.
É por isso que devemos admirar os chamados “carros mundiais” tanto. Para quem não sabe, são carros vendidos em todo o mundo, com pequenas alterações para cada mercado. Por exemplo, o Renault Logan, modelo de baixo custo vendido na África, Ásia, Europa e América do Sul. É um sucesso no mercado subdesenvolvido, mas que também não daria certo nos EUA, onde carros baratos (para as massas) não têm mercado. Na própria Europa Ocidental, desenvolvida, os números de vendas são baixos. Carros mundiais, quando fazem sucesso, provam que a montadora em questão conseguiu entender os anseios de consumidores de todo o mundo, a partir de um limite sócio-econômico. Penso que a linha de uma marca em certo país deve ser composta de modelos globais, vendidos ao redor do mundo, e modelos locais, específicos para aquele mercado, que só vendem bem por lá, provando que elas estão antenadas com a cultura local e as preferências dos consumidores de lá. Montadoras instaladas no Brasil enfim entenderam o que nós queremos: a maioria das marcas tem um sedã compacto, uma picape compacta, a linha inteira com motorização flex, "aventureiros urbanos"... Aspectos que você realmente não vê na Europa, nos EUA ou no Japão. Afinal, entender o que o consumidor quer é o primeiro indício de sucesso.
Na foto, nosso velho conhecido EcoSport, cujo protótipo foi lançado no Salão do Automóvel de 2002. Segundo pesquisas da época, foi o carro que mais impressionou os visitantes, superando carros de marcas como Ferrari.

1 comentários:

At 9 de fevereiro de 2009 às 17:47 Anônimo said...

Texto excelente!!!

Dá muito gosto ler textos como esse, que explicam bem e definem aquilo que nós já sabemos, mas que, de certa forma, está desorganizado em nossa mente.

 

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